- Por favor entre, sem medo. Diga-me o que vé.
- Dr. B. Way, parece-me tudo demasiado claro.
- Não tenha medo, vá, abra os olhos, deixe-se habituar luz e, com todo o tempo que quiser, comece a descrever o que o rodeia.
- Está claro, muito claro. Tenho a janela entreaberta mas o sol da manha entra pelo quarto adentro. As cortinas são escuras mas estão nos cantos, não tapam nenhuma luz. Está demasiado claro, sente-se o calor que entra pela janela, deve ser verão… ou então uma primavera muito quente. Tenho a cama por fazer, um lençol apenas e a coberta enrudilhada ao fundo da cama. Uma coberta leve, de linho, é branca e tem um bordado azul, 3 riscas na vertical. Estão 4 posters na parede, bandas de metal, Summoning, Amon Amarth, uma imagem da Angela dos Arch Enemy e Iron Maiden; tenho dois quadros pendurandos na parede. Feitos por amigos que não sabiam o que lhes fazer. Um roupeiro com um misto de roupa desarrumada nas gavetas e, uma perfeita ordenação nas camisas e calças penduras
Tenho a mala no chão, cheia de pins, completamente suja, castanha quando devia ser verde claro.
- Sentes-te atraido por alguma coisa?
- A mala, lembro-me que guardava lá as coisas mais preciosas.
- Pega nela se te apetece.
- Já peguei, tem lá dentro um livro, um caderno de apontamentos, um caderno para as aulas, documentos, leitor de mp3, caneta, lápis… uma pedra e uma bolota.
- Uma pedra e uma bolota porqué?
- Acho que me lembro… a pedra foi quando tive uma discussão com uma namorada antiga, ela ignorou-me enquanto berrei por algo estupido… no fim deu-me uma pedra… porque não havia mais nada a dar.
- E a bolota?
- Já não me lembro… sei que tambem foi ela que ma deu, mas já não me recordo.
- Mais alguma coisa dentro da mala?
- Sim, um papel com notas imprimidas, notas de universidade. Acho que reprovei a tudo, não sei porqué, não me lembro de o ter feito.
- Alguma razão para teres reprovado a tudo?
- Acho que não Dr. B. Way… eu não acho que isto aconteceu mesmo.
- Que é aquilo em cima do teu armário?
- Não sei… parece… um cachimbo, um bong.
- Parece-te ou é?
- É sim, já lhe peguei, e ainda tem lá erva.
- Que queres fazer? Estás no teu quarto, é o teu mundo…
- Vou acendé-lo, não faz assim tão mal, só puxar um bocadinho, o suficiente para relaxar, aquelas notas incomodaram-me.
- Faz o que quiseres, como quiseres, é o teu quarto.
- Que se passsa agora?
- Os meus pais entraram a correr pelo quarto adentro, estão a gritar comigo, viram as minhas notas… estão a dizer que tenho trabalho para fazer e que sou um drogado de merda. A minha mãe dá-me um estalo, bate-me continuamente e pega-me pelos cabelos, esfrega-me a cara num papel que estava na secretária… não quero mais estar aqui.
- Começaste isto, agora acaba. Entraste no quarto, fumaste… agora enfrenta o teu pequeno destino. Mostra-me o que acontece.
- Não quero, ela está a chorar, o meu pai nem fala, dizem que me vão tirar da universidade e que me expulsam de casa… eu não quero mais fazer isto, não quero, não quero, não me obrigue a isto, por favor.
- Onde estás agora?
- Sozinho, sentado no quarto, não há livros nas prateleiras, os cadernos estão arrumados em caixotes debaixo da cama, os posters sairam, os quadros ainda lá estão; a cama tem 3 cobertores, chove lá fora. Está frio, tenho uma camisola de lã vestida. A secretária está arrumada, não está lá nada. A mala desapareceu. Só tenho camisas e calças e casacos no armário. Está tudo demasiado bem arrumado.
- Que queres tu?
- Não quero isto…
- Põe-no a dormir se faz favor.
- Sim Dr. B. Way.
- Quais foram os resultados da 1ª fase?
- Analisando o seu comportamento… culpa, sim, muita culpa.
- Então foi um sucesso, paciente nº 790 com culpa inserida. Passemos à fase seguinte.
1 comentário:
Tripping a guilt-tripper?
Visto do meu prisma pessoal todas as memórias, lembranças ou outras conflagrações do passado são sempre fontes de culpa...
Por não ter feito mais.
Enviar um comentário