segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Memorias de um pequeno bêbado...

Sou, serei.

Quero escrever, criar, destruir ideias, formular ideias e vê-las a tomar forma. Não consigo… quero escrever historias, fazer vidas, criar sentimentos. Não vejo mais nada à minha frente senão este desejo.

Não estou desesperado por uma criação, não tenho necessidade de esmagar papel em tinta, não tenho vontade de desesperar com palavras.

Tenho sim raiva; tenho ideias a espaços, fragmentos, partes de películas de filmes queimados pelo tempo. Ideias enormes gigantescas e maravilhosas que esbarram na realização. Tenho o começo e o fim, um nascimento e uma morte. Falta-me a vida…

Passei os últimos meses a pensar se me faltaria vida a mim próprio, tive nojo de mim por pensar que nunca mais conseguiria escrever.

Cego, completamente cego, perdido. Acima de tudo sou um escritor. Não importa ser publicado ou não, não importa se nada passo para o papel. Quero matar todos os que me exigem algo a que não têm direito. Sim, esmagar a traqueia da próxima pessoa que, com um sorriso de escárnio, me perguntar onde estão os meus manuscritos. – “Onde estão os teus livros? Esses textos?”

Será que preciso de por tudo no papel? Tenho mesmo de partilhar tudo com todos? São as minhas ideias, são a seiva que corre dentro de mim, são o cliché estupidamente repetido à exaustão, são partes de mim… sim, partes de mim! É assim tão difícil perceber que é tudo parte de mim? Porque pensam que quero partilhar com vocês?

Eu sei que isto pareceu totalmente despropositado e idiota, mas porque raios não entendem? A minha vida está a meio, sim, a meio, quem sabe no início. Quem sabe no fim para começar outra… tenho o meu mundo quebrado, arrastando-me o espírito para cantos escuros e frios que não conheço. Sinto o cheiro de sangue e carne suja lá, não fujo, sinto o cheiro e não tenho medo, nem sequer nojo… é cheiro de humanidade. É o meu cheiro que todos os dias tento disfarçar.

Perdi os alicerces que com as pedras construi (as pedras… só magoam se não as apanhares com as duas mãos antes de te atingirem.).

Como é que posso criar vida ou sentimentos? A minha própria vida foi-me tirada, se os meus sentimentos são incompletos como posso fingi-los para outros? Tenho raiva, toda a raiva, todo o ódio, toda a inveja (toda?). Preciso de compaixão, carinho e, por muito lamechas que seja… amor… preciso.

Não posso criar nada só com raiva e ódio. De vez em quando tenho pequenos lampejos desses sentimentos que não tenho e crio algo. São textos como este em que só me queixo e dou desculpas… mas não tenho opção (tens).

Vivo assim, incompleto… escrevo sozinho, leio sozinho, penso sozinho, vivo sozinho, morro sozinho… amo sozinho.

Onde estavam eles? Aqueles escritores que escrevem na miséria, aqueles que vivem num mundo lindo e de repente escrevem na miséria. Onde está esse interruptor mágico para essas dimensões onde, num momento tudo está bem, noutro estão na miséria e escrevem? Com um bocado de sorte Cthulhu está lá num bar a distribuir senhas para a miséria. É o negócio dele…

Tenho raiva… não há ninguém que tenha o direito de me pedir nada, o que eu dou, dou porque quero, dou porque é isso que quero. Aprendam de uma vez por todas, o meu destino é meu. Se os meus textos são meus não importam que seja bons, maus, bem escritos, com gralhas, com falhas. Eu escolho da-los e vocês têm apenas que os ler. Não mos peçam. Tenho o direito de os guardar para quem os dedico.

Tenho uma obra dentro de mim à espera que alguém ma arranque do peito… e por isso sou escritor.

Carlos Cardoso

18/10/05

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Sou Jean-Louis Lebris de Kerouac

Levanta-te do chão. Não estás ainda morto. Ainda há tempo.
Não consigo sentir nada.
Consegues sim, ainda há tempo.
Já não sou ele.
És sim, ainda choras ao ver aquele filme.
Aquele filme...
Sim, aquele filme que fala de esperança.
Ele não morre.
Nem tu morrerás.
Eu já morri.
Ele bem pensou isso durante 20 anos.
Eu tenho já quase 27....
Ainda não estás morto.
Estou sim.
Porque dizes isso?
Porque já não me consigo importar.
Então porque choras?
Porque estou triste.
Isso faz parte de ti, não é por causa disso que estás morto.
Estou morto.
Não estás nada, se estivesses ela não te iria procurar.
Ela quem?
Ela!!! Tu sabes, aquela que um dia virá.
Já veio.
Essa é simpática... mas não é ela.
Era.
Não é.
Como é que sabes?
Não estás com ela.
Não estou com ninguém,
Porque ela ainda não chegou.
Já chegou sim.
Burro.
Eu sei que sou.
Não és... mas ages como se fosses.

Levanta-te do chão, ao menos discute comigo.
De nada serve.
Serve sim... como é que serás como ele se nem sequer discutes?
É apenas a personagem de um livro.
O nome muda, mas ele viveu. A personagem é tão real como o que sentiste ao ler.
Senti...
E choraste, que bem me lembro, choraste.
Quero ser como ele.
Ele quem?
Aquele que viaja na parte de trás de uma carrinha à noite.
Então levanta-te.
Porquê? Não tenho aquele talento.
Tens, ele está guardado dentro de ti.
Já ninguém se importa.
Tu queres dizer elas.
Elas...
Elas importam-se... mas dás demasiada importância ás suas opiniões.
São as mulheres da minha vida... preciso delas.
Ela vai-te dizer que não importa, faz o que tens a fazer por ti.
Ela faz sempre tudo apenas por si... e é uma boa amiga.
E provavelmente sabe o que diz.
Sempre soube, é boa amiga.
As outras um dia saberão o que és.
O que é que eu sou?
Louco, desvairado que chora com esperança e medo.
Medo... quero ver aquele mar que um dia vi sem fim.
Volta lá no próximo verão.
Vou tentar, chorei ao vê-lo como nunca tinha chorado. Choro demasiado.
Choras nada, ninguém te vê, mas choras a quantidade certa.
Achas que mudariam a sua opinião sobre mim?
Não sei. Mas sei que nunca te deixariam sozinho.
Raramente deixaram.
As mulheres da tua vida... Aiii as mulheres da tua vida.
Só tenho quase 27 anos, não são assim tantas mulheres.
São as suficientes, loucas, carinhosas, silenciosas... que gritam.
Tenho saudades delas.
Dela.
Delas.
Tá bem, não discuto contigo nisso.
Delas, de uma só tenho saudades do que sentia, não por ela.
Então de quê?
Do sentimento...
Ela compreende, é tua amiga, não leva a mal.
Nem tem de levar.
Finalmente um bocadinho de emoção.
Cala-te.
Não me calo, não mandas em mim… levanta-te.
Já estou de pé, não chateies mais.
Jean-Louis Lebris de Kerouac
Achas que posso vir a ser como ele?
Porque não, ela um dia acreditou em ti.
Qual?
A do sentimento.
Ela acreditou em mim...
E ainda acredita.
É boa amiga.
Tenho saudades de me sentir daquela maneira... dava-me força.
Um dia ela chegará para te dar força.
Ela quem?
Ela... já te disse... ela.
Ahhhh, ela... eu acredito em ti.
E agora?
Agora levanto-me.
E que mais?
Agora vivo, respiro, sinto, faço, grito, salto, choro, choro, choro tanto...
Porque?
Porque sou Jean-Louis Lebris de Kerouac... e GRITO

SEREI AQUELE SER QUE NÃO PARA, SEREI AQUELE QUE CAMINHA, SEREI AQUELE QUE CHORA, SE AFOGA NAQUELE MAR... SEREI TANTO, TÃO FORTE, DE TANTAS MANEIRAS...

Serei... tenho de ser...

Vais ser.

Carlos Cardoso

16/02/08

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Tive um sonho ontem... isto foi o que sobrou quando acordei.

Ele nunca a negaria. Mesmo com todos aqueles anos a pesar na sua mente ele sabia, a sua promessa mantinha-se. Quando ela o deixou pela última vez ele fez uma simples promessa. Nunca a negaria, fosse de que maneira fosse, a resposta dele seria sempre um sim, nunca a negaria. Estivesse ele casado ou não, mesmo que tivesse filhos, ele nunca a negaria. Mesmo que por um acaso do destino ele julgasse estar apaixonado por outra mulher, ele nunca diria que não.

Agora, anos depois, ela estava à sua frente, cheia de dúvidas, a pensar se estaria bem, se iria ficar bem, se algum dia poderia ficar bem a fazer aquilo.

Ele só pensava em responder-lhe, em dizer-lhe que sim. Ela só teria que lhe pedir uma vez, ou então levantar a cabeça. Pedir-lhe com palavras ou sem palavras… para ele era igual.