quarta-feira, 16 de julho de 2008

Que se pode fazer?

Haveria um objectivo no meio daquilo tudo? Um sentir que se está preso numa rotina que não nos valoriza. O mundo poderia acabar e dentro do seu quarto nada mudaria, o mesmo ar quente, bafiento que caracteriza, não aquilo que pensa, mas aquilo que vive. É um pobre paralelismo aquele a que se vé associado, dia após dia, noite após noite. – está tudo bem – diz ele, diz para si, só mais uma vez; o mundo não continua e está cada vez mais perto. Uma dicotomia que não separa os seus membros, o instrumento de tortura medieval é uma brincadeira de crianças ao pé disto. Não separa, não arranca membros até lhe ser dada a libertação total. É uma morte lenta que não provoca necrose, não provoca granguena e não ser no espirito. È esmagado por dois mundos diferentes, cada um a querer juntar-se ao outro.

Encontra-se no meio, emparedado por duas superficies que tão bem conhece… os sinais que pode ler na parede, as fotografias emolduradas em encaixes dourados de promessas de vida calma. Molduras negras e podres de devassidão… – é isso que queres? Irás chegar à velhice sozinho, os teus amigos irão desaparecer – é isso que acontece enquanto as paredes se fecham sobre ele?

A primeira noite em que ele se apercebe disso é a mais dificil, fica deitado na cama e de repente o silêncio entra. Um grito ensurdecedor esmaga-lhe a coragem. Ouve choros, um homem gordo e infantil pede que o tirem de lá, as paredes fecham-se sobre ele. Uma voz goza com ele… acabou e começou. É rouca e ele continua deitado. A porta fecha-se, a luz apaga-se… a única claridade presente vem de uma janela onde nem sequer pode por a cabeça. Ele cheira a fragancia de uma noite de verão. A sua mente caminha os seus ultimos passos, ouve os pequenos sons de uma cidade a adormecer e chora. Quando a luz se apaga de vez acabou-se. As paredes fecham-se e esmagam-no entre elas. Ele tenta levantar os braços e logo no primeiro toque da pedra lisa e bege sente… não há força que pare o que está para vir.

Não há prazeres na vida.

Pega no telemovel e procura o nrº, olha alguns segundos para o visor e decide… vai ligar.

– Hey, onde andas? –

– Por ai… –

– Andas meio desaparecida –

– Yeah… –

– Queres fazer algo? –

– Aparece por ai, bebemos um copo –

– Podiamos passar um pouco de tempo juntos… –

– Eu vou andar por ai… –

– Ok, eu depois digo-te algo, xau –

– Até logo –

E de novo o mesmo, o quarto fecha-se com apenas a janela aberta, um leve ar frio que lhe chega à cara. Um mosquito que o chateia por breves momentos é morto com uma pequena palmada.

Deita-se, puxa o lençol e deixa o cobertor no fundo da cama. Amanha é outro dia… sem prazeres. Por momentos as paredes param e ele adormece… o som desaparece por uns segundos, a manha poderá trazer algo de novo pensa ele… mas nunca traz. Sonha em passar-lhe a mão pelo cabelo… só mais uma vez… e essas paredes ficarão quietas.

Carlos Cardoso

16/07/08

4 comentários:

alissolarilole disse...

a rotina repetitiva queima
a rotina repetitiva queim
a rotina repetitiva quei
a rotina repetitiva que

cool. angustiante.

Unknown disse...

As paredes só te esmagam enquanto aceitares estar enre elas...

Unknown disse...

"A primeira noite em que ele se apercebe disso é a mais difícil, fica deitado na cama e de repente o silêncio entra."
Quando este processo se inicia não para, 1º lei de Newton no vácuo, a apoptose existencial.
And it goes on and on...
Good stuff, keep'm comin'!

Anónimo disse...

Já tinha saudades...
Diz-lhe para não desistir, para nunca desistir. Diz-lhe que não se deixe ficar sozinho.

angie