segunda-feira, 31 de março de 2008

Tempo

Tempo

Tempo de escrever algo. Comprei este bloco, não porque tenho de escrever, comprei-o porque está na hora de começar

Caminho à chuva com um vento enorme e oiço Jack… Jean… qualquer nome serve. Aulas aborrecidas, a poesia espanhola é interessante mas não hoje, não hoje que tomei um comprimido para alergias… e dá-me sono.

Abre os olhos e segura a cabeça, isso. Encontrei o David, dá-me a mesma conversa amigável de sempre: “ bora beber um copo um dia destes, pelos velhos tempos, um sixpack nos bombeiros.” Quais velhos tempos, foi apenas o ano passado, não são tão velhos assim Jack ou Jean fala de S. Francisco. Mágico e estou obcecado. Tenho de comprar um caderno e o piano toca nos meus ouvidos. Lá está, ele, o louco, havia de gostar de falar com este saxofone. “the tree looks like a dog, barking at the heavens”. O louco compreenderia, o analista apreciaria, sim ele, o analista.

Compro o caderno, mas antes vejo um dos amores. Cabelo para trás pelo vento, olá e adeus. Não é sempre assim? Comprei o caderno, primeiro passo dado.

Carlos

10/03/08

segunda-feira, 17 de março de 2008

Pequenos pedaços de pedaços...

Agora observo eu, um gabarola gordo, de barba imperfeita e dentes tortos, voz de grunhidos e burro que nem uma porta. Mas ele estava confiante, seguro que nada lhe aconteceria. Provavelmente estaria muito mais seguro que eu, mais preparado. Ele teria assimilado todos os ensinamentos, todos os códigos, todas as directrizes que lhe foram alimentadas. Mesmo assim ele falharia, era simples, confiança a mais mata, eu sei-o. Quando era mais jovem era confiante, praticamente arrogante. Deixei de o ser quando cai, a confiança não leva a lado nenhum, apenas engana. Este sistema quer-nos assustados, quer que deliremos com tudo o que dizem mas, não quer que o questionemos.

Do outro lado da sala estava uma rapariga ruiva de cabelo curtinho que parecia mal cortado, trazia um gorro que lhe deixava cair a franja e bocados de cabelo para fora. Estava sentada a olhar para a mesa em sua frente. Observei-a durante uns minutos, ela parecia calma, serena, talvez conformada com o que se iria seguir. Talvez estivesse completamente preparada para o que se adivinhava. Na verdade só sei que olhar para ela me acalmava. Ela provavelmente conseguiria safar-se, nem que fosse por apenas um bocadinho, ela conseguiria safar-se, tenho a certeza. Acho que a simples ideia de que haveria mais alguém a pensar como eu dava-me um ânimo enorme, forças para continuar, como se eu estivesse ligado a ela através de um ideal.

Passaram apenas 10 minutos desde que entrei nesta sala, ela encontra-se agora praticamente cheia. Um sujeito numa cadeira, uma cadeira livre, um sujeito... uma cadeira livre. São as instruções. Deixem todos os vossos pertences à entrada. Deixem tudo, livros, malas, telemóveis, qualquer marca da vossa individualidade. Tragam apenas o instrumento da vossa salvação e a identificação fornecida pelos agentes da tirania. Não somos nada. Somos sujeitos, identificados por números e de caneta na mão.

In "Minutos Apocalipticos"

Carlos Cardoso

16/03/07

segunda-feira, 10 de março de 2008

Que piada...

Que piada…

Quero destruir tudo. Arrebentar com zonas protegidas, poluir mares, matar todos os animais que não fodem para salvar a própria espécie, se não lutam não merecem este privilégio de respirar nem um segundo mais.

Qual o propósito de proteger tudo e todos? Se eu evoluo através do sofrimento todo o mundo o pode fazer, todo o mundo deve sofrer da mesma maneira. Não haverá perfeição, não haverá harmonia, não haverá odes, sonetos, poemas de livre pensamento que lhes valha.

Haverá apenas ruínas, pó... evolução, perfeita, simples, matemática. Efeito de causa, bater de asas de borboleta no deserto. Quero destruir tudo o que é mais belo que eu, quero que sintam a dor da minha inferior mortalidade. É puro este sentimento de raiva... e ele persistirá. Eu sei que será sempre raiva, ódio e nojo. Tudo dirigido a mim. Deixem-me foder todo o mundo que se julga belo.

No meio das entranhas que se espalham pelo mundo, no meio do sangue que jorrará em esguichos seremos todos iguais, eu serei igual, todos me adorarão, todos se adorarão. Cada casa um templo, cada rua um caminho místico, cada beijo uma santificação. Beijem-me as mãos bestas. Serei reconhecido... e assassinado, eu, o agente desta destruição, deste Rift da realidade.

O mundo irá evoluir à minha custa, eu irei evoluir à custa do mundo. Mas que raio irei eu destruir?

Não destruirei aqueles que me observam com um sorriso... amigos. Que problema, amigos, destruir a realidade sem lhes tocar. Será que lhes devia dizer que as suas vidas são inúteis, simplesmente insignificantes no grande plano, no meu desígnio para a minha evolução? Olha que pena, irão odiar-me... mas nunca ignorar-me.

Não serei ignorado

Tens a certeza ó inútil?

Quem dis...

Tens a cabeça baixa pela vergonha... ou será pelo tiro que te deram!?

...

Parece que é pelo tiro...

Carlos Cardoso

08/10/05

segunda-feira, 3 de março de 2008

Simples...

Simples...

Está ali, mesmo à minha frente. Penetra-me como um som vindo do meu passado. É o seu riso o som, a sorriso a imagem e os seus olhos uma faca. É tudo apenas um sonho, não posso saltar de imagem para imagem. Posso morrer num segundo e voltar noutro sem sentir dor? Posso, claro que posso, ela acabou de o provar. Não é preciso ser um sonho. É a realidade, a lamina é bem real. Mata-me numa noite e quando me levanto de manha não há um ferimento visível.

Mas sente-lo.

Sinto… perder uma esperança estúpida. Pensei mesmo que seria fácil, que ali estaria algum tipo de perfeição imaginada por mim. Infantilidade atrás de infantilidade. Não conheço um único ponto do seu mutável cérebro. A sua alma é-me tão estranha quanto os seus pensamentos.

A sua carne não te é estranha.

A sua carne pertenceu-me. O seu toque é ainda real… como se fosse num sonho, naquela dimensão para onde ela me levava. Posso sonhar acordado? Acho que posso; aquele toque era real? Qual é que era real afinal? Tenho marcas…

Já não tens, ela não tas deixou visíveis, os dentes… desaparecem.

Deixou marcas, ainda deixa marcas, deixará marcas. A sua mente deixa marcas, o seu toque deixa marcas… deixará. A sua marca será eterna. Nunca estarei sozinho, o quarto nunca estará vazio, o vento frio não fará nenhuma diferença. A musica… será 80’s… sim, o sonho disse-mo. Viverá no passado, para o futuro, faremos caminhadas místicas directamente para o Tibete, Suécia, Finlândia e de volta a Portugal.

De volta a Portugal?

Não há melhor som que o de Portugal, o vento numa arvore, o som da praia, as casas dos avós em ruas quase desertas, o som de motas antigas a passarem, a cortarem o ar com sons estridentes enquanto tento dormir uma sesta. Um gato a ronronar ronrona mais aqui. A relva é mais agradável aqui, dorme-se melhor aqui, não tem pulgas. E ela estará lá… a sua cabeça no meu peito, o seu cabelo a fazer-me cócegas… o seu corpo no meu.

Então queres fugir… com uma mulher que não conheces… para voltar a Portugal…

Sim… não é deliciosamente simples?

E vão como?

De comboio…


Espera… espera… não estávamos a falar de uma que já passou?

Não… é simples… foi um sonho… já não te posso contar sonhos?

Carlos Cardoso

03/03/08