terça-feira, 15 de agosto de 2006

Porquê??

Porquê

Um dia perguntaram-me sobre o que queria escrever.

Quero escrever sobre tristeza. Porquê muitos perguntarão. Porque a tristeza é o que todos sentem sem excepção. Ninguém consegue escrever sobre felicidade apenas. Podem referi-la, dizer que estão num estado de felicidade e beleza constante e inigualável. Mas a felicidade só é atraente se antes houve tristeza e miséria. De que outra maneira poderiam as pessoas avaliar o quanto amam alguém que durante anos lhes fugiu? Como poderiam as pessoas sentirem-se felizes com um abraço, se antes não sentiram falta dele? É impossível sentirem-se agradecidas por um beijo se não passaram dias e meses a sonharem com ele.

Há aqui um equilíbrio macabro, felicidade só é felicidade se a tragedia tiver acontecido. Felicidade só é felicidade se a tragedia acontecer. Quando se perde alguém todas as recordações são melhores, mais vivas, mais doces e mais poderosas.

Quando algo de bom acaba não se pensa no que aconteceu de mau, mas sim no que nos faz sorrir… ou até chorar, mas nunca no mau.

Então porque razão nunca escrevo da felicidade que antecede a tristeza!? Simples, ninguém sabe como essa felicidade é boa. Sabem apenas que a tristeza é má. Ao saberem isso irão adorar cada momento de felicidade que lhes der.

Então porque não escrever sobre a felicidade que vem depois da tristeza? De novo simples. O que interessa não é o resultado, mas sim o que se fez para lá chegar, a caminhada. Se lhes mostrasse apenas felicidade que veriam eles? Algo vazio, simples. Bom, mas sem sacrifício. Mostrando o caminho árduo que se percorre não importa o final, ele será sempre bem-vindo.

Da mesma maneira que vivo, escrevo. Não me escondo da tristeza, lamento-a e deixo-a passar, lentamente, mesmo que me sufoque, mesmo que tenha de lutar contra ela. Faz parte de mim, esmaga-me a cada dia que passa e, só espero pacientemente que, ao levantar a cabeça veja algo mais… algo mais simples e directo. Nem que seja uma simples conversa entre quem nunca se conheceu. Nem que seja uma conversa em quem se está a conhecer, porque nunca se sabe, pode sempre vir dali um pequenino momento de felicidade. Um pequeno instante que agarrarei com todas as forças, um pequeno instante a que me entregarei até sufocar como se me afogasse.

Haverá felicidade na minha vida e na minha escrita, eu sei-o, mas será sempre através da tristeza… sempre foi…

Carlos Cardoso

15/08/06