quarta-feira, 26 de abril de 2006

Amor e Desespero...

Amor e desespero

Então queres que pense? Então queres que sinta algo? Queres que arranque algo de mim? Queres que faça algo comigo? É simples o que pedes com os olhos, é simples o que pedes com a carne do teu pescoço. Queres que me liberte ainda mais. Se eu pudesse mostrava-te o quanto a decadência da carne me enoja. Se eu pudesse mostrava-te o quanto os livros me irritam, o que eu os odeio. Amo-os, sabes disso? Com cada palavra inscrita no papel eu perco um pouco de mim. Quero escrever as minhas letras como runas. Que sobrevivam ao tempo e ao escárnio.

Odeio tanto as páginas dos livros, odeio-as tanto que tenho vontade de as arrancar, amarrotar, enfia-las na minha boca, esmaga-las entre os meus molares, dilacera-las com os meus caninos, amacia-las com a minha saliva. Tornar todas aquelas palavras, historias, personagens, amores, sexo, traição e sonhos uma parte de mim. Envia-las para o ácido do meu estômago e tornar-me um livro para que me leias.

Haverá metamorfose mais perfeita? Poderias deitar-me na cama, na relva ao sol, folhear-me com os teus dedos, beijar-me com os teus olhos, provar-me com a saliva presa aos teus dedos, deixar que o vento me virasse as paginas conforme o destino te vira o que sentes? Leva-me para onde quiseres, escondido dos olhos de todos, tal qual um livro indecente sobre sexo. Poderias ostentar-me orgulhosamente como um bastião da tua liberdade, da tua sexualidade perfumada, da tua alguma coisa que me faz virar a cabeça e sorrir desesperado.

Sublinha em mim todas as passagens que gostares, anota em mim os meus defeitos e virtudes, enche-me de vergonha, mostra-me o que tenho a temer. Berra aos meus ouvidos uma gargalhada sonora que me faça sangrar os meus medos.

Olha-me para lá da minha capa escolhida por outros e diz-me que nome seria apropriado para o meu mundo.

Queres que te diga que nome te dou? Já te li muitas vezes, chamo-te amor e desespero. Odeio-te como odeio todos os livros por inveja, amo-te como amo todos os livros por ler, todas as páginas por arranhar, todas as letras por cheirar!!! Amo-te sem nunca te ter visto, porque nunca te li, e tenho medo que, depois de te ler e abraçar aquele FIM, só reste ódio, por não ser como tu, por não saber escrever como naqueles livros.

Para quem ainda não li.

Carlos Cardoso

26/04/06

quarta-feira, 5 de abril de 2006
















Roll, roll, roll your joint.
Twist it in the end,
Light it up and take a puff
Then pass it to a friend!