sábado, 17 de novembro de 2007

Prenda de anos para a menina Angie :) Eu não me esqueço de nada...



Como em tantas noites em que sai com o pessoal que agora conhecia do meu primeiro ano de universidade, eu estava triste, a pensar nem sei bem em que, ou em quem, mas uma rapariga de caracóis que não me conhecia de lado nenhum, que me tinha visto apenas uma vez ou duas e nunca me tinha falado, virou-se para mim e perguntou:

- Que tens!?

Bem … isto para mim era novo. Ninguém me chateava com este tipo de perguntas porque, eu escondia bem o que sentia, e bastava o meu grande sorriso de plástico para aparentar estar bem. Claro que depois de dizer que estava tudo bem, que nada se passava e mandar o sorriso de plástico á personagem dos caracóis, ela vira-se e diz-me isto:

- Não estás nada bem, nota-se, diz lá o que tens!!!

Ora bem, isto meteu-me impressão, foi como ter encontrado alguém com visão raio-x para dentro do que eu sentia, não me lembro de mais nada nessa noite, mas lembro-me do dia a seguir.

Enquanto estava parado em frente á porta da aula teórica de ITIC lembrei-me do tédio que tinha sido a primeira aula teórica, e pus-me a andar dali para fora. Nisto encontrei-a dirigir-se para a aula, não sei porquê, mas convenci-a de que aquela aula era um desperdício de tempo e fomos tomar café. As próximas horas foram passadas a conversar, dei comigo a falar com ela sobre tudo e mais alguma coisa, dei comigo a confiar nela como nunca tinha confiado em quase ninguém, e o mais estranho, é que ela ouvia-me, não como alguém que ouve sem interesse, mas ouvia-me atentamente. Não ficava calada, algo que vim a descobrir ser impossível nela, mas falava comigo, contava-me coisas, interessava-se pelo que eu fazia. Era talvez a terceira ou quarta pessoa que eu conhecia com quem podia mesmo conversar. Sai daquela tarde a pensar que tinha ganho ali uma boa amiga, afinal de contas, ela passou duas ou três horas a ouvir-me falar de Senhor Dos Anéis e de como era lindo, e de como eu estava tolo por ir ver os filmes, escusado será dizer que a convenci a ver todos os filmes comigo no cinema. Aliás, esse tornou-se no nosso pequeno ritual, um de muitos.

Á medida que ia passando mais tempo com ela, ia conhecendo-a melhor, cheguei a um ponto onde acho que ela sabia tudo sobre mim e eu tudo sobre ela, os pormenores que me escapavam não me interessavam.

Das coisas que me lembro melhor são obviamente as manhas de segunda-feira passadas no “caloiro” a beber “Ucal” quente …. Ou a ferver, e eu a mostrar-lhe música no leitor de cd’s. Lembro-me também de que almoçávamos um com o outro todos os dias na cantina da universidade, ainda não sei o que raio me passava na cabeça para comer lá, a comida era um nojo, só valia pela companhia.

Lembro-me também das tardes passadas nos cafés á conversa com ela discutindo sobre se eu tinha olhado ou não para o rabo da empregada, rabo esse que só olhei por estar a cinco centímetros da minha cara, até hoje essa discussão continua.

Lembro-me do primeiro dos filmes que fomos ver ao cinema juntos, o “Scary Movie 2”, sentados na primeira fila nas cadeiras do canto. A partir desse dia fomos ao cinema uma média de no mínimo duas vezes por semana, lembro-me que lá dentro costumava sempre ver o filme com a minha mão agarrada na dela.

Lembro-me perfeitamente de uma certa noite em que decidi apanhar uma gigantesca bebedeira porque ela não me ligava nenhuma por razões que aqui não escreverei. Para tornar uma história grande pequena, não apanhei uma bebedeira e a noite acabou muito melhor do que eu esperava. Se neste momento se estão a perguntar eu respondo, sim eu já estava completamente perdido por ela.

Nos próximos 3 meses mais ou menos, eu ora andava nas nuvens, ora o mundo desabava em cima de mim, normalmente andava nas nuvens quando a deixava e vinha para casa á noite, e de manha o mundo desabava, querem saber as razões!? Não digo, não têm nada que saber.

Quando tudo finalmente acabou e eu me apercebi, através dela, que já não havia nada que me fizesse andar nas nuvens fui para casa e dormi, acordei no dia seguinte como se me tivessem tirado algo. A diferença é que desta vez não me tinha tirado nada, e precisei de sensivelmente meio ano para ver isso. Afastamo-nos um bocado um do outro. Como ela dizia, tinha-mos confundido as coisas, ou pelo menos era o que ela achava. Algo do estilo de confundir amizade com amor, parvoíce se me perguntam, se alguém confundiu foi ela, mas também já não ando chateado com isso. Nos primeiros tempos pensava que já não havia equilíbrio na minha vida, mas estava enganado, equilíbrio não significa felicidade constante.

Passados uns tempos voltamos a dar-nos bem, muito bem de um momento para o outro, parecia que nada se tinha passado, era como o nosso segredo que ninguém sabia. Era como as nossas discussões sobre o rabo da empregada ou sobre o melhor fim para o nosso filme, acreditem ou não tínhamos um filme sobre o qual discutimos o fim através de mensagens de telemóvel, era o “O casamento do meu melhor amigo”, eu achei que tinha acabado bem, ela achou que tinha acabado mal, o normal.

De qualquer maneira, depois daquilo tudo ficaram apenas duas coisas, a amizade que apenas comparo á que tenho com o meu melhor amigo e a sua namorada, e o pequeno ritual que tinha-mos todos os natais. O ritual consistia em eu ir ver o “Senhor dos anéis” com ela. Podiam já não ter almoços com ela, podia já não passar horas a ouvir musica nas manhas, podia já não ter aqueles pormenores todos que tínhamos quando estávamos juntos ao princípio. Mas também, parecia-me a mim que já não precisava-mos de passar todos os minutos juntos um com o outro para estarmos felizes, encontra-la na universidade, quando saia á noite, quando ocasionalmente passávamos um dia juntos chegava perfeitamente, e isso agradava-me e ainda me agrada hoje. Ainda agora temos uma enorme amizade, e só tenho pena de uma coisa, não vou tantas vezes ao cinema com ela como gostava de ir, e o “Senhor dos Anéis” acabou, e não sei que raio de filme vamos arranjar para ver no natal.

E pronto, passados três anos é isto que tenho para contar, pormenores não há, isto chega para tudo o que queria dizer. Quem tem de perceber percebe.

Carlos Cardoso

Data desconhecida