domingo, 11 de maio de 2008

Pequeno pedaço de desespero...

Desespero…

Lembro-me perfeitamente. Era um sábado à noite, mais ou menos por volta das 22 horas. Estava um tempo chuvoso, típico da altura. Estávamos em Fevereiro e aproximava-se aquele dia cómico, o dia 14. Algo que sempre achei muito divertido era o facto de, assim que acabava a época melosa dos namoradinhos, instalava-se o Carnaval. Costumava dizer às minhas antigas namoradas e paixões que – Acabava uma palhaçada e começava outra, de qualquer maneira as pessoas ficam acéfalas nestas alturas. – Confesso que elas nunca achavam muita piada. Também é verdade que tive sempre o condão de escolher raparigas muito românticas que, de uma maneira ou de outra, queriam sempre passar esses dias de amor eterno comigo. Queriam passa-lo abraçadas, aos beijos, a segredar segredos que não interessavam a ninguém. Estas relações nunca duravam muito. Uns meses no máximo, nunca mais de seis.

Por volta das 22:15 fiquei aborrecido de estar em casa. Algo me chamava lá para fora e, como estava em casa sem fazer nada, decidi sair à rua. Faltava-me um gosto na boca, um sabor amigável, um trago sensível a acariciar as minhas entranhas. Faltava o meu velho Deus Whisky, faltava o álcool no meu sangue costumava dizer um amigo meu.

Sai do meu apartamento. Um apartamento que tinha um cheiro a beatas, a botas velhas e a odores nefastos. Não, eu não tinha janelas. Quer dizer, tinha mas nunca as abria. O fumo tabagista era-me mais agradável à minha aura de solitário que o ar puro. Esforcei-me por andar direito sem tropeçar nas minhas próprias pernas. Tive preguiça de apertar as botas e os fios dançavam pelo chão. Sentia os pés a vaguearem, e o húmido das pedras da calçada, não ajudava nada à festa. Recomeçava a chuva. Uma chuva miudinha que não chateia ninguém mas, que encharca lentamente os cabelos e provoca constipações. Queria ter trazido um guarda-chuva comigo mas, pela centésima vez, perdi-o numa pastelaria qualquer durante o dia. Era comum, entrava, deixava o guarda-chuva à entrada e, aquando da saída, já não o encontrava. O que vale é que, os guarda-chuvas, começavam agora a ser vendidos nos chineses a preço de banana. No dia seguinte teria comprado um.

4 comentários:

Unknown disse...

É estranho não é, como escolhemos os dias, como a mais pequena mudança pode mudar o rumo de uma vida...
Mas isto são clichés, eu sei, mas estes dias de chuva tb me parecem todos iguais.
Ao menos o sol cria padrões de luz, e ao menos no Carnaval posso ficar em casa, a beber um whisky

Anónimo disse...

Então e o resto? angie

Karma Beavis disse...

Gosto de descrições; entra-se bem nessa cabeça.

Unknown disse...

A te spiritus noster devoratur et nostra animae capitur...

Aceito a ranhosice consumista do dia 14 de fevereiro, se nos derem folga o resto do ano...


Nós somos vítimas, testemunhas involuntárias do passar do tempo, que nos leva o guarda-chuva, e que nos devolve dias depois, pela mísera quantia de alguns euros.

O tempos passa, mas cobra-nos sempre a sua portagem.