quarta-feira, 29 de março de 2006

Não importa...

Sem dar bem conta tinha-me sentado num sítio onde as pessoas paravam para conversar, mas também ninguém olhou de lado para mim.

De cerveja na mão deixei-me estar. Fui apanhando as conversas pelo ar. Um rapaz dizia a uma rapariga para não levar algo a mal, que até a curtia muito. Notava-se que estava bêbado, falava com a cara demasiado perto dela. Ela, incomodada, queria ser salva, queria sair da frente daquele hálito. Clamava por uma amiga qualquer, uma que a tirasse dali. Mas não haveria ajuda para ela.

A outra amiga estava agarrada ao braço de um rapaz muito mais alto que ela. Ria-se das suas piadas mas não porque queria parecer bem ao pé dele. Ria-se porque achava mesmo piada. Ele por sua vez corava quando ela soltava uma gargalhada e instintivamente se chegava a ele. Provavelmente iriam acabar juntos. Eram demasiado carinhosos um com o outro. Demasiado cuidado que ele tinha, não lhe tocava com força, não a puxava. Deixava o seu corpo balançar com o dela, se ela se inclinava ele inclinava-se. Se ela lhe tocava nas costas ele arrepiava-se e mantinha-se direito. Estava nervoso.

Ao lado estava um outro rapaz, tinha roupas novas, muito novas mesmo, pareciam acabadas de estrear.

Dizia para quem o quisesse ouvir que, se dava com todos, para ele não havia problemas. Será que se poderia dar comigo?

Será que gostaria de juntar o seu casaco castanho e limpinho à sujidade do meu? Será que não olharia para mim de cima? Mas também, que raio importava isso. Tudo isto durou um cigarro e meia cerveja.

In "Desespero"

Carlos

2 comentários:

Karma Beavis disse...

ANCALAGON! EXIGIMOS QUE ESCREVAS UM ROMANCE SOBRE MIÚDAS NA PRAIA OU ALGO ASSIM! Com o tipo de linguagem apresentado neste pequeno papiro de conhecimento que acabei de ler

diehappynow disse...

Aquilo q aprendi sobre outra pessoa - qd estive predisposta a respeitar um TU que é TU e não EU -só aconteceu dp de por à prova a minha paciência, o tal "carinho", cm tu disseste, essencial numa relação não banal, numa relação - qualquer ela - que se destina a algo profundo eq acobarda o primeiro q pensar em se afastar...
Vale a pena passar por isso e, se dissermos que é porque transpira para os olhos de um estranho, está td dito.