domingo, 19 de março de 2006

Deixa-me sonhar...

Desta maneira vivíamos apenas através dos livros de Henry Miller para sentirmos nojo de Paris, vemos "Goodbye Lenine" para descobrirmos que mudanças aconteceram na Alemanha.

Acendemos um charro e ouvimos Led Zeppelin, The Doors e Dark, fechamos os olhos e abanamos a cabeça.

Sonhamos em ser Tony Wilson a assinar contratos com sangue num guardanapo de papel.

Choramos sozinhos porque não pertencemos a este mundo, queremos criar algo lendário e não conseguimos. É esta a nossa grande tragédia, um mundo cheio de sonhadores de 22 anos sem nada para fazer, ninguém confia em nós para revitalizar a cadeia de sonhos.

Não é a nossa geração que está morta, a nossa agarra-se com unhas e dentes aos sonhos. A próxima geração morrerá quando lhes formos dizer que não temos nada para lhes contar. Estudei, trabalhei, tive um filho e morri. O resto é estática.

In "Sucumbo" - Carlos

3 comentários:

BookOwl disse...

Ai está, nas tuas últimas linhas, o futuro que não desejo para mim...
Que venham tristezas, mágoas, profunda agonia, mas nunca a maldita monotonia. Não necessito para mim o que têm os meus pais, os meus avós, os pais deles, e quase todos os que conheço.
E sim, concordo, ao meu redor observo só jovens procurando desesperadamente destacar-se, por alguma razão se enchem as ruas de falsos esteriótipos extravagantes. Quantos os olhares se dirigiram à sua indumentária elaborada, ou os seus comportamentos demasiado despreocupados. Tudo mentes sãs e, no entanto, sofrem por seus desejos.
Enfim. Sonhos.
Gostaria eu que a minha vida fosse pouco mais que uma ilusão desconcertante, um momento ébrio direccionado pelo instinto, nada seria melhor que me conduzir de olhos fechados, ouvidos moucos, por este mundo. Apenas saber de mim.
Costumo afirmar que sempre tive vocação para eremita, lol.

Vi no #metal ^^
Pub actually works. Amazing.

*** *** *** *

Anónimo disse...

bem... creio que este excerto adequa-se perfeitamente a uma mente de escritor pleno de rebelião, que se quer afirmar no mundo, ou apenas no seu mundo e mostrar uma realidade desconcertante que toda a gente pensa que vai vivenciar, de uma maneira ou outra. também sou assim. não quero de todo não partilhar experiências e memórias com os meus descendentes e deixá-los na eminência de serem uma geração que esquece, só porque os outros se esqueceram também.

gostei :) *

Unknown disse...

Nem sabes ao nível que compreendo, como naquela música dos Blink 182 (me thinks), everybody hates you when you'r 23 ou algo do género...
Sinto me assim, que só recebo ódio do mundo pela minha existência sem notas de rodapé de algum relevo para o mundo...
Para quando uma coisa épica na nossa existência?
Onde está o nosso Waterloo, o nosso Iwo Jiwa, o nosso Muro de Berlim a cair, a nossa praça de Tianamen?
Foda-se mesmo, quero algo mais do que uma tablete de chocolate!