domingo, 19 de março de 2006

Eternidade

Podias ter dito para parar. Mas nem sequer pensaste nisso. Agora, com os meses de separação a darem-me sanidade, sei que podíamos ter parado. Ficamos simplesmente maravilhados, atordoados. O cheiro inebriante, pesado que entrava nos pulmões, que nos dizia que tínhamos pertencido um ao outro.

Era sempre de noite naquele banco traseiro do teu carro. Sempre com frio. Julgamo-nos especiais, ligados por algo transcendental quando te disse – tapa-te, estás com frio – olhaste para mim incrédula, sem saber o que dizer porque tinhas as pernas arrepiadas. Tinhas acabado de pensar que estavas com frio e eu disse-to. Ligados por telepatia. Pensamos logo que ficaríamos juntos para sempre. Já estávamos ligados.

Pensei que nada se podia comparar aquilo. Disse-te que cada momento passado naquele sítio era como uma porta para outra dimensão. A partir do momento em que te beijava, em que deslizavas para fora da tua roupa. A partir do momento em que te mordia o ombro, em que me arranhavas o pescoço, em que me mordias o queixo, era de outra dimensão, de outro plano.

Passei-te a mão pela coxa, senti a tua pele arrepiada. Estavas mesmo com frio, na altura ri-me com a coincidência, mas dei um valor enorme aquilo. Eram coisas que apenas aconteciam na nossa dimensão, no nosso mundo. Uma dimensão nocturna do banco traseiro do teu carro. Era tão diferente como aquele mundo que se abriu quando, pela primeira vez, toquei no teu corpo nu. Era um mundo tão poderoso como aquele que se abriu no dia em que fizemos amor pela primeira vez.

Podias ter parado… podias ter dito algo, podias ter dito que apenas tinhas prometido ser para sempre minha, apenas naquela noite eterna. Para sempre minha, num mundo eterno que se abria para nós, uma dimensão que acabava quando saímos daquele carro e íamos para casa. Uma eternidade nessa dimensão, uns meses no mundo real….

Carlos

25/02/06

1 comentário:

diehappynow disse...

Momentos como esse não estão destinados a durar mas lembramo-nos smp deles nalguma noite no silêncio do nosso quarto....Acabaste de o imortalizar ao escrevê-lo mas espero q tenha sido a última vez q pensaste nele pq é demasiado intenso, demasiado doloroso p existir.