domingo, 2 de novembro de 2008

O que é que sou?

Acorda

Acorda desse corpo adormecido, levanta-te e sente o vento frio a entrar pela janela aberta. É quase inverno e o pequeno cobertor e lençol já não te aquecem nas noites.

Aqueceram um dia quando havia um corpo quente a teu lado. Movimenta a tua vida para fora dessa utopia que carregas dentro da tua mente.

Não podes voltar atrás. Carrega a cruz e põe um sorriso. Coloca o sorriso para ti, para mim, para ele, para ela, para eles, para elas, para quem olha, para quem te toca, para quem não te toca, para quem pensa que te toca… para quem não sabe que te toca.

Toca-te, é preciso saberes de que é feita a tua carne. É carne? Tem sangue a passar por ela… é carne e mexe-se…

Salta, é carne, dança, é sangue, fala, é ar que sai de ti, berra… és tu que sai de ti.

Ignora a dor, a carne sofre e a dor física consegue ser muitas vezes mais insuportável que a dor de que todos se queixam.

De que se queixam?

É já meio-dia, que esperas? Um empurrão nunca dado por alguém? Vai e toca na tua pele nas outras pessoas. A tua pele está lá, és tu que eles são… que são eles sem ti? Se tu os trouxeste uns aos outros… que são eles sem ti… que és tu sem eles? Sem os trazeres não serias quem és… és o que os outros são, são o que tu és, o que é que és sem as tuas acções sobre eles… que é que são sem as suas acções sobre mim?

Quem é que sou quando não os tenho… que é que são quando não me têm?

É de noite já, e adormece o corpo com as substancias… faz algo, sé tu próprio… não sejas tu próprio, isso já não dá resultado. O que é que tens de ser para te fazeres notado de novo? O que é que tens de ser? Sé o que já foste para o ser de novo… mas ainda o és… sé mais do que foste… assim notará, notarão… que tens de ser? Que tenho de ser? Que têm eles de ser? Será que ele, ela, eles, elas ainda são o que foram para responder ao que eu já fui? Será que não me respondo ao que quero ser? Que quero ser? Ela, ele, elas, eles já se foram… o que és tu? O que sou eu. De quem é esta mão… esta cara… esta carne?

O que é que tenho de ser para voltar a ser o que era para aqueles que ainda quero que sejam?

O que quero que a minha pele seja?

Fecha a janela e puxa o cobertor… já não tens um corpo quente ao lado.

Diz-me… és um corpo quente? Sou um corpo quente?

02/11/08

4 comentários:

Anónimo disse...

sim..vim tecer um pequeno comentário_weeeee_.É difícil realizar uma crítica coerente a este texto netas horas e sem algumtempo de reflexão...p isso, caio na simplicidade de dizer que gosto,e, como sempre, poderia eliminar algumas partes mas que no seu todo está interessante ver aqui cm a personagem encontra o mundo cm uma extensão da sua própria pele e o propósito social adquirito pelo corpo.vê-se o ciclo de um corpo biológico, social, sexual inserido na confusão da busca pelo "eu"....está bom sim senhor..e sabes que aprecio estes últimos trabalhos :) boa continuação

Unknown disse...

Já sabes o que podia dizer, de como podia referir que me vejo por aí perdido, de como todos nós nos perdemos por aí.
Mas não interessa, seria narcisismo.
O que interessa é que como sempre tens a visão centrada das coisas, equilibrada no seu desiquilibrio.
Awesome as ever!

Rosa Nobre disse...

não puxes o cobertor, puxa antes a carne mais um pouco, até rasgar, e seres só músculo e vísceras, sem uma capa impermeável ao sangue que goteja do teu olhar... que de tanto ver perde noção de que não importa tanto as perguntas, como não importa tanto a entropia.... antes um espectáculo dantesco, de mil pedaços putrefactos explodindo na claridade dos outros.
uma morte feliz... todos os dias...
beijo*

alissolarilole disse...

"Toca-te, é preciso saberes de que é feita a tua carne."

Satisfaz-te cravar as unhas nos rasgos de tendão cru para te transfigurares em menos humano e mais homem-tu?

Giro, a mim também.