segunda-feira, 3 de março de 2008

Simples...

Simples...

Está ali, mesmo à minha frente. Penetra-me como um som vindo do meu passado. É o seu riso o som, a sorriso a imagem e os seus olhos uma faca. É tudo apenas um sonho, não posso saltar de imagem para imagem. Posso morrer num segundo e voltar noutro sem sentir dor? Posso, claro que posso, ela acabou de o provar. Não é preciso ser um sonho. É a realidade, a lamina é bem real. Mata-me numa noite e quando me levanto de manha não há um ferimento visível.

Mas sente-lo.

Sinto… perder uma esperança estúpida. Pensei mesmo que seria fácil, que ali estaria algum tipo de perfeição imaginada por mim. Infantilidade atrás de infantilidade. Não conheço um único ponto do seu mutável cérebro. A sua alma é-me tão estranha quanto os seus pensamentos.

A sua carne não te é estranha.

A sua carne pertenceu-me. O seu toque é ainda real… como se fosse num sonho, naquela dimensão para onde ela me levava. Posso sonhar acordado? Acho que posso; aquele toque era real? Qual é que era real afinal? Tenho marcas…

Já não tens, ela não tas deixou visíveis, os dentes… desaparecem.

Deixou marcas, ainda deixa marcas, deixará marcas. A sua mente deixa marcas, o seu toque deixa marcas… deixará. A sua marca será eterna. Nunca estarei sozinho, o quarto nunca estará vazio, o vento frio não fará nenhuma diferença. A musica… será 80’s… sim, o sonho disse-mo. Viverá no passado, para o futuro, faremos caminhadas místicas directamente para o Tibete, Suécia, Finlândia e de volta a Portugal.

De volta a Portugal?

Não há melhor som que o de Portugal, o vento numa arvore, o som da praia, as casas dos avós em ruas quase desertas, o som de motas antigas a passarem, a cortarem o ar com sons estridentes enquanto tento dormir uma sesta. Um gato a ronronar ronrona mais aqui. A relva é mais agradável aqui, dorme-se melhor aqui, não tem pulgas. E ela estará lá… a sua cabeça no meu peito, o seu cabelo a fazer-me cócegas… o seu corpo no meu.

Então queres fugir… com uma mulher que não conheces… para voltar a Portugal…

Sim… não é deliciosamente simples?

E vão como?

De comboio…


Espera… espera… não estávamos a falar de uma que já passou?

Não… é simples… foi um sonho… já não te posso contar sonhos?

Carlos Cardoso

03/03/08


5 comentários:

Unknown disse...

Os amores presentes no sonhos são os mais vividos, não são?
É verdade, parece que por aqui, na terra mãe, tudo é mais forte, mais impressionista, mais cliché e verdadeiro.
Força e obrigado por me lembrares dos meus sonhos...

Anónimo disse...

no fundo, sempre adorei as coisas deliciosamente simples ;) ainda bem que as fizeste sobressair tão bem! *

J'Anne disse...

Obrigada pelo comentario.

Nada de choro pelo meio, deixei de chorar.
Sim aprendemos com as nossas lutas mas ao mesmo tempo as vezes basta e temos de baixar a arma.

J'Anne disse...

Obrigada pelo comentario.

Nada de choro pelo meio, deixei de chorar.
Sim aprendemos com as nossas lutas mas ao mesmo tempo as vezes basta e temos de baixar a arma.

Anónimo disse...

Os sonhos são a melhor coisa que nos podemos oferecer a nós mesmos, porque quando não temos mais nada são eles que nos vão apoiar.